A DAMA QUATROCENTONA
Ana Luiza Almeida Ferro
Bafejada
pelo vento mântico
ora
sibilante
ora
silente
no
milenar balouço do Atlântico
por
vezes bravio
por
vezes suave
repousa
uma dama na rede
a
receber os navios
a
despachar as marés
sempre
a enroscar-se de sede
na
Fonte do Bispo
na
Fonte do Ribeirão
uma
serpente em busca da cauda
sempre
mítica
casualmente
real
em cada
pequena lauda
com
água por todos os lados
a
abordar a praia grande
a
encher a lagoa encantada
no porto de todos
os fados.
Da carruagem de Ana
Jansen a dama
que os franceses
embalaram
e fizeram sua
que os lusos
conquistaram
e cobriram de
azulejos
que os holandeses
violaram
e deixaram nua
que os brasileiros
cortejaram
e acolheram sem
pejos
contempla o lento
tecer das parcas
o tempo a deixar
suas marcas
no chão que tantos
pisaram
que tantos heróis
cultivaram
com sonho, suor e
sangue
no forte ou no
mangue.
Do belo mirante a
dama
com jeito de bacuri
da cor da juçara
com gosto de sapoti
de sotaque de
zabumba
com cheiro de pequi
seduz os leões do
poder
ouve os tambores e
pede as mercês
acompanha a marcha
da insensatez
pelas ruas e becos
do Reviver.
Do alto das
palmeiras a dama
da cocada, do cuxá
do boi, do cacuriá
de muitos
sortilégios
e alguns
privilégios
de fiéis ou venais
pretendentes
de faustos ou ruços
presentes
Atenas bem
brasileira
ilustrada, festeira
filha de Japi-açu
dona do babaçu
avista a baía do
santo
desce para o Largo
dos Amores
do sabiá procura o
canto
na igreja se veste
de flores
lamenta os agravos
com espanto.
E assim a grande
dama
bem matrona
se senta à
beira-mar
no conforto de sua
fama
abre o leque e se
abana
e deixa a História
navegar.
E assim a grande
dama
quatrocentona
se senta nas pedras
de cantaria
onde o passado
esconde a chama
solta os cabelos ao
afago da brisa
e deixa a realidade
virar fantasia.
Casarios antigos de São Luís, semelhantes aos casarios portugueses.
Vista do Palácio dos Leões, à Av. Pedro II, setembro de 2014.
Mísula do balcão do Palácio Cristo Rei / Universidade Federal do Maranhão
Homenagem a São Luís, 8 de setembro de 2014, 402.
São Luís da
humanidade
Por Ana Felix Garjan
Habitantes das cidades:
Vejam os ritos desta terra,
ouçam a voz dos pandeirões,
os sons e ritmos das matracas,
sintam o vibrar das calçadas,
dancem os ritos
enfeitados de fitas,
e toquem nas cores de São Luís!
Habitantes de outras terras:
Escutem os sons mágicos desta cidade,
façam reverência pras caixeiras do Divino,
rezem para o espírito das águas,
dancem com os brincantes de bumba – bois
e das festas encantadas de sons africanos!
Habitantes de todas as terras do mundo:
Venham mirar os mirantes azuis existentes,
Corajosos e testemunhas do tempo de São Luís,
Que teimosos observam os caminhantes das ruas
E pedem socorro aos filhos da cidade!
Habitantes de São Luís:
Esta cidade patrimônio da humanidade
é mistério, ilha encantada,
pedaço de terra solto no mar do leste,
é farol que ilumina e une sonhos
do lado latino e da Europa ocidental.
São Luís, berço sagrado:
Tua cidade será palco iluminado de justiça e paz
na primavera dos teus 402 tempos, dias e noites,
segue teu tempo, sonho, transporta espaços,
tu és poesia, rito e paixão para quem te ama,
Escuta São Luís, meu amor:
acordei no dia da noite encantada,
fui à casa dos sonhos, acendi faróis nas tuas águas,
escrevi pauta de sinfonia, fotografei tua alma, energia,
toquei uma canção, cantei uma poesia, pintei teu coração.
Nas fotos acima:
Palácio dos Leões e o Palácio da Justiça Clóvis Beviláqua, à Av. Pedro II,
Centro de São Luís - Maranhão.
Homenagem ao escritor, romancista e ex-Reitor da UFMA,
Josué Montello. ( foto por Ana Felix Garjan)
Josué Montello. ( foto por Ana Felix Garjan)
São Luís, 08 de setembro de 2014 - 402 anos de fundação
Revista Ludovicense - São Luís 4 Séculos
Grupo ARTFORUM Internacional - São Luís e Associados
Direção de Edição: Ana Felix Garjan.
(Socióloga, escritora, poeta, artista plástica e fotógrafa maranhense)